LIDERAR É INCLUIR: CONECTANDO PESSOAS E ESG
- Gabriela Carvalho
- 4 de set.
- 6 min de leitura
Em um cenário global cada vez mais dinâmico e interconectado, a Gestão da Diversidade e Inclusão (D&I) transformou-se de uma discussão periférica em um pilar estratégico inegável para a sustentabilidade e competitividade empresarial. Atualmente, a D&I representa um componente crucial da agenda ESG (Environmental, Social e Governance), influenciando diretamente o valor social e, consequentemente, o sucesso dos negócios. Sua relevância é inquestionável, transcendendo a ideia de ser uma mera tendência ou um imperativo moral.
A Urgência da Diversidade e Inclusão no Cenário Corporativo
No Brasil, as iniciativas relacionadas à gestão da diversidade ganharam força a partir da década de 1990, impulsionadas inicialmente por pleitos de grupos como negros e mulheres. Esse escopo expandiu-se para incluir pessoas com deficiência, idosos, indivíduos de diferentes origens sociais e regionais, e membros da comunidade LGBTQIAPN+. O tema superou o status de modismo organizacional, levando as empresas a questionar como podem atuar para promover a D&I e de que maneira ela pode contribuir para sucesso dos negócios e o desenvolvimento humano.
No contexto ESG, o pilar "S" (Social) engloba, entre outros aspectos, os direitos humanos, a qualidade de vida e o bem-estar no trabalho. A adoção de práticas alinhadas às estratégias ESG é uma tendência consolidada, e stakeholders internos e externos já se recusam a trabalhar ou fazer parcerias com empresas que não aderem a esses princípios. Fica claro, portanto, que a D&I é um vetor inquestionável de valor e mitigação de riscos.
D&I: Um Elemento Estratégico para Valor, Inovação e Reputação
A gestão de D&I evoluiu de uma prática voluntária para um elemento estratégico, capaz de gerar valor, fortalecer a cultura organizacional e impulsionar a inovação de forma sustentável. A diversidade de perspectivas não só enriquece os processos internos, como também aprimora a capacidade das empresas de compreender contextos complexos, responder a desafios com agilidade e tomar decisões mais éticas e criativas. Em um ambiente de rápidas transformações sociais, organizações que cultivam ambientes inclusivos e equitativos estão mais preparadas para se conectar com diversos públicos, construir reputações sólidas e gerar impacto positivo de longo prazo.
Empresas que priorizam a D&I constroem uma imagem organizacional saudável e uma reputação positiva. Ao demonstrar uma representação diversa, a organização atrai diferentes stakeholders — sejam eles consumidores, parceiros ou investidores — que se identificam com seus valores e propósito. Essa identificação é crucial, especialmente porque a agenda ESG, em particular o pilar social, prioriza empresas com políticas estruturadas de D&I na alocação de recursos em fundos de investimento, destacando o valor estratégico de tais práticas para atrair investimentos.
Por outro lado, organizações que negligenciam a valorização da diversidade tendem a enfrentar a rejeição desses mesmos parceiros, investidores e consumidores, comprometendo significativamente sua reputação e reduzindo sua competitividade no mercado. Essa negligência também se manifesta na falta de representatividade de grupos minorizados — como LGBTQIAPN+, negros, mulheres, pessoas com deficiência e diferentes gerações — em cargos estratégicos e de prestígio. Tal assimetria revela a persistência de preconceitos estruturais e a reprodução de desigualdades de oportunidades nos processos organizacionais.
A ausência de uma pluralidade de talentos não apenas espelha desigualdades sociais, mas também limita a capacidade da empresa de inovar e atrair os melhores profissionais. A valorização da diversidade e a promoção da inclusão incentivam a colaboração e a pluralidade de ideias, oriundas de diferentes experiências e visões de mundo, levando a soluções mais criativas e inovadoras para os desafios organizacionais. Sem essa diversidade de pensamento, a empresa corre o risco de cair na "mesmice" e perder oportunidades valiosas. A gestão eficaz da D&I é, portanto, um elemento-chave de diferenciação, essencial para a integração da pluralidade social e a representatividade organizacional no século XXI.
Conceitos Fundamentais da D&I:
Para transformar a agenda de diversidade e inclusão em um vetor de desenvolvimento organizacional e vantagem competitiva sustentável, é imprescindível compreender seus conceitos estruturantes:
Diversidade: todas as diferenças que particularizam indivíduos – raça, gênero, idade, origem social, religião, entre outras. A gestão da diversidade busca representatividade equilibrada em todos os níveis organizacionais.
Inclusão: Vai além da mera presença, significando garantir iguais oportunidades e ambientes seguros e acolhedores onde todos possam prosperar.
Equidade: oferece condições específicas a grupos minorizados, reconhecendo diferenças para promover igualdade de oportunidades.
Interseccionalidade: considera que preconceitos podem se somar. Mulheres negras, por exemplo, sofrem discriminações combinadas de gênero e raça.
Liderança Inclusiva: Gestores que ativamente se posicionam a favor da diversidade, equidade e inclusão, criando pertencimento e engajamento, indo além de simplesmente "não discriminar".
Os Impactos Inegáveis da Diversidade e Inclusão no Âmbito Organizacional
A pluralidade de vivências e perspectivas contribui diretamente para decisões mais criativas, éticas e alinhadas às demandas sociais contemporâneas. Empresas que investem em equidade e inclusão constroem reputações mais sólidas, reduzem riscos reputacionais e jurídicos e se posicionam como agentes de transformação social. Em um cenário cada vez mais orientado por valores, transparência e propósito, D&I não é apenas uma vantagem competitiva — é uma exigência para quem deseja prosperar de forma sustentável.
A gestão da diversidade e inclusão (D&I) não apenas reflete um compromisso ético e social, mas também se traduz em impactos organizacionais e socioeconômicos tangíveis e inegáveis. No âmbito financeiro, empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança demonstram 21% mais chances de obter maior rentabilidade. Essa pluralidade é também um motor de inovação, pois equipes diversas produzem soluções mais criativas e eficientes, prevenindo a estagnação. Além disso, a adoção de práticas inclusivas fortalece a reputação da marca, atraindo profissionais de excelência e, consequentemente, reduzindo a rotatividade de talentos. Ambientes de trabalho diversos promovem maior produtividade e engajamento, resultando em satisfação profissional e menor turnover. A D&I também contribui para a redução de riscos, mitigando problemas jurídicos e garantindo maior alinhamento às expectativas dos investidores. Em uma escala mais ampla, o impacto social e econômico é significativo, como demonstrado pelo potencial de agregar até R$ 382 bilhões ao PIB nacional [1] apenas com a redução das diferenças de gênero no Brasil
A Realidade Brasileira
Apesar de alguns avanços, o Brasil ainda se encontra nos estágios iniciais da gestão da diversidade e inclusão (D&I). Os dados atuais revelam uma persistente realidade de preconceito e assimetria de oportunidades para diversos grupos. A população LGBTQIAPN+, por exemplo, que representa cerca de 12[2] da população, enfrenta hostilidade cultural e barreiras significativas, resultando em 90% das pessoas trans atuando na prostituição, mesmo aquelas com alta escolaridade. No que tange às pessoas com deficiência, que somam 23,9% [3] da população, menos de 5% estão ativas no mercado de trabalho, com uma presença executiva mínima, sendo ausente para mulheres com deficiência.
A situação da população negra também é alarmante: embora 56% [4] da população se autodeclare negra, apenas 10% das empresas possuem programas de igualdade de oportunidades, e este grupo constitui a maioria dos desempregados. As mulheres igualmente enfrentam desafios para conquistar cargos de liderança e recebem em média 19,4% [5] a menos que os homens, apesar de maior escolaridade. Apenas 32,6% das empresas possuem políticas de incentivo à contratação de mulheres, o que reforça a desigualdade estrutural. A interseccionalidade agrava essa realidade, pois mulheres negras, pobres e mais velhas são as mais prejudicadas por desigualdades, discriminação e estereotipação, e sua representatividade em cargos políticos é notavelmente baixa.
Diante desse cenário, torna-se imperativo que as empresas questionem ativamente a forma como suas equipes são montadas e revejam suas políticas de seleção e critérios de sucessão, buscando torná-los mais objetivos e menos suscetíveis a vieses inconscientes. Além disso, é fundamental impor tolerância zero a práticas de assédio e discriminação. A gestão da diversidade e inclusão, portanto, transcende uma pauta moral e se consolida como um imperativo estratégico para a resiliência, inovação e longevidade organizacional, além de ser um investimento crucial na construção de uma sociedade mais justa e próspera para todos. As organizações precisam ir além do discurso, desenvolvendo e implementando boas práticas que as tornem verdadeiramente inclusivas, tanto culturalmente quanto estruturalmente.
Conclusão: Um Compromisso ESG Inadiável e Profundamente Humano
A gestão da diversidade e inclusão não é uma decisão opcional; é um imperativo estratégico para a resiliência, inovação e longevidade de qualquer organização. Representa um investimento no capital humano, na reputação da marca e, acima de tudo, na construção de uma sociedade mais justa e próspera para todos, erradicando a desigualdade e a violência.
As empresas precisam ir além do discurso. É fundamental pensar e desenhar boas práticas que tornem as organizações verdadeiramente inclusivas, não apenas sob os aspectos culturais, mas fundamentalmente estruturais. Este é o momento de cada líder se tornar um agente de mudança, promovendo a sensibilização e o conhecimento, tanto no ambiente corporativo quanto nos círculos sociais. A questão que se impõe é: "Sua organização e equipe estão preparadas para lidar com as diferenças e transformá-las em potência?"

Referências
[1] BBC BRASIL. Maior participação feminina traria R$ 382 bilhões à economia brasileira até 2025. Maceió, 14 jun. 2017. Disponível em: https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/maior-participacao-feminina-traria-r-382-bilhoes-a-economia-brasileira-ate-2025/. Acesso em: 18 ago. 2025.
[2]INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA (IBDFAM). Levantamento mostra que Brasil possui 12% de pessoas adultas que se declaram LGBTQIA+. Disponível em: https://ibdfam.org.br/noticias/10201/Levantamento+mostra+que+Brasil+possui+12+por+cento+de+pessoas+adultas+que+se+declaram+LGBTQIA%2B#:~:text=IBDFAM:%20Levantamento%20mostra%20que%20Brasil,adultas%20que%20se%20declaram%20LGBTQIA+. Acesso em: 18 ago. 2025.
[3] BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Brasil tem 18,6 milhões de pessoas com deficiência, indica pesquisa divulgada pelo IBGE e MDHC. Brasília, jul. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/brasil-tem-18-6-milhoes-de-pessoas-com-deficiencia-indica-pesquisa-divulgada-pelo-ibge-e-mdhc. Acesso em: 18 ago. 2025.
[4]BRASIL. Ministério da Igualdade Racial. População. Disponível em: https://www.gov.br/igualdaderacial/pt-br/composicao/secretaria-de-gestao-do-sistema-nacional-de-promocao-da-igualdade-racial/diretoria-de-avaliacao-monitoramento-e-gestao-da-informacao/hub-igualdade-racial/populacao. Acesso em: 18 ago. 2025.
[5] BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Mulheres recebem 19,4% a menos que os homens, aponta 1º Relatório de Transparência Salarial. Brasília, mar. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/noticias-e-conteudo/2024/Marco/mulheres-recebem-19-4-a-menos-que-os-homens-aponta-1o-relatorio-de-transparencia-salarial. Acesso em: 25 ago. 2025.
SPINELLI-DE-SÁ, Julianna Gripp. Gestão da diversidade e inclusão. Rio de Janeiro: FGV, 2024.
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